Maria do Carmo Secco tem desenvolvido uma obra singular na história das artes plásticas brasileiras. Do desenho, fino e primoroso, ela passa à aventurosa senda da pintura, amadurecida. Sua obra tem uma continuidade, aprimorada pelo caminho da PASSAGEM.

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Passagem que é desdobramento, mas também congraçamento das dimensões do tempo e do espaço. O tempo não linear é fruto de uma elaboração interior, que caminha por reminiscências, modificadas e ressurgidas num plano que é o da fecundidade plástica, de cor e forma.

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O espaço, ocupado pela qualidade da dimensão geométrica, é pensado pela múltipla ação que é,ao mesmo tempo, contenção e espontaneidade criativas.

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Sob o seu inteiro e manual controle, surge a maior beleza: os delineamentos, às vezes, sóbrios,  outros que jorram esparsadamente, dentro do espaçamento da tela, com tênues rupturas. A contenção não é limite, mas espaço/tempo para repensar a pintura e para o passeio de nosso olhar, perscrutante.

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Indagadora é sua marca. MARCA REGISTRAD@, mas acima de tudo, recomeço de quebra-cabeças entre opacos e brilhos, forma e luz. Esse monocromatismo, inteligentemente  tecido pela cor, ora entranha-se na secura, ora redefine expressa, cabalmente, as camadas sutis, com sensualidade, passageiramente esvaecida. Nessa aparência de fissuras, enreda-se o pleno significado dos temas abordados pela artista e que são fontes das transparências redivivas em todas as suas telas.

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Passagem é repisamento na obra construída com a maestria de quem busca, novamente, no tempo das reminiscências, a desestruturação (ação), o desmanchamento, que vai cobrindo e expressando, no caminho determinado, as ambigüidades inerentes aos sentimentos humanos, na razão e na emoção. É aí a descoberta expressa na obra de MCS.

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Nesse lúdico jogo de vestígios, a série da Casa da Rua...: entre cinzas e pretos, fulgura a perda, a destruição pelo fogo. Fogo ferido, fogo figurado, soerguimento da fênix vital.

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Observando os Cortes Finos, além de criarem amplos campos de cor/luz, aparentemente imóveis, adquirem situações tensas, questionamentos sobre o ser do artista e o ser da pintura...

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Clóvis Brigagão - Março de 1995

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